Mia Couto escreve sobre o "jet set" Moçambicano
Bem...como sabem adquiri nos ultimos tempos um gosto pela critica.Critico aquilo que esta mal mas tambem sei criticar aquilo que esta bem...Posso tar fora da complexa sociedade moçambicana a 1 mes e 10 dias mas não é este tempo que vai mudar comportamentos de uma sociedade inteira.
Este texto de Mia Couto ta "lindo" e louvavel e ao le-lo chegava mesmo a colocar pessoas do chamado "jetset" e aqueles que gostam de aparecer na pele destas personagens virtuais criadas pelo autor do texto...
Leiam e riam-se que amanhã venho com resto das minhas conclusões...
Já vimos que, em Moçambique, não é preciso ser rico. O essencial é parecerrico. Entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre umtropeço e uma trapaça.
No nosso caso, a aparência é que faz a essência. Daí que a empresa comecepela fachada, o empresário de sucesso comece pelo sucesso da sua viatura, afelicidade do casamento se faça pela dimensão da festa. A ocasião, diz-se, éque faz o negócio. E é aqui que entra o cenário dos ricos e candidatos aricos: a encenação do nosso "jet-set".
O "jet-set" como todos sabem é algo que ninguém sabe o que é. Mas reúne agente de luxo, a gente vazia que enche de vazio as colunas sociais. Ojet-set moçambicano está ainda no início. Aqui seguem umas dicas que,durante o próximo ano, ajudarão qualquer pelintra a candidatar-se a umjet-setista. Haja democracia! As sugestões são gratuitas e estão dispostasna forma de um pequeno manual por desordem alfabética:
Anéis - São imprescindíveis. Fazem parte da montra. O princípio é: quem temboa aparência é bem aparentado. E quem tem bom parente está a meio caminhopara passar dos anéis do senhor à categoria de Senhor dos Anéis Ojet-setista nacional deve assemelhar-se a um verdadeiro Saturno, tais osanéis que rodeiam os seus dedos. A ideia é que quem passe nunca confunda ojet-setista com um magaíça*, um pobre, um coitado. Deve-se usar jóias dotipo matacão, ouros e pedras preciosas tão grandes que se poderiam chamar depenedos preciosos. A acompanhar a anelagem deve exibir-se um cordão de ouro,bem visível entre a camisa desabotoada.
Boas maneiras - Não se devem ter. Nem pensar. O bom estilo é agressivo, oarranhão, o grosseiro. Um tipo simpático, de modos afáveis e que se preocupacom os outros? Isso, só uma pessoa que necessita de aprovação da sociedade.O jet-setista nacional não precisa de aprovação de ninguém, já nasceuaprovado. Daí os seus ares de chefe, de gajo mandão, que olha o mundointeiro com superioridade de patrão. Pára o carro no meio da estradaatrapalhando o trânsito, fura a bicha**, passa à frente, pisa o cidadãoanónimo. Onde os outros devem esperar, o jet-setista aproveita para exibir asua condição de criatura especial. O jet-setista não espera: telefona. Emanda. Quando não desmanda.
Cabelo - O nosso jet-setista anda a reboque das modas dos outros. O que vemdos americanos: isso é que é bom. Espreita a MTV e fica deleitado com unsmoços cuja única tarefa na vida é fazer de conta que cantam. Os tipos sãofantásticos, nesses video-clips: nunca se lhes viu ligação alguma com otrabalho, circulam com viaturas a abarrotar de miúdas descascadas. A vida éfácil para esses meninos. De onde lhes virá o sustento? Pois esses queridosfazem questão em rapar o cabelo à moda militar, para demonstrar a suaagressividade contra um mundo que os excluiu mas que, ao que parece, lhesabriu a porta para uns tantos luxos. E esses andam de cabelo rapado. Porenquanto.
Cerveja - A solidez do nosso matreco vem dos líquidos. O nosso candidato ajet-setista não simplesmente bebe. Ele tem de mostrar que bebe. Parece umreclame publicitário ambulante. Encontramos o nosso matreco de cerveja namão em casa, na rua, no automóvel, na casa de banho. As obsessões do matreconacional variam entre o copo e o corpo (os tipos ginasticam-se bem). Vazamcopos e enchem os corpos (de musculaças). As garrafas ou latas vazias sãodeitadas para o meio da rua. Deitar a lata no depósito do lixo é uma coisademasiado "educadinha". Boa educação é para os pobres. Bons modos são paraquem trabalha. Porque a malta da pesada não precisa de maneiras. Precisa degangs. Respeito? Isso o dinheiro não compra. Antes vale que os outros tenhammedo.
Chapéu - É fundamental. Mas o verdadeiro jet-setista não usa chapéu quandotodos os outros usam: ao sol. Eis a criatividade do matreco nacional: chapéuele usa na sombra, no interior das viaturas e sob o tecto das casas. Deveser um chapéu que dê nas vistas. Muito aconselhável é o chapéu de cowboy, àla Texana. Para mostrar a familiaridade do nosso matreco com a rudeza dosdomadores de cavalos. Com os que põe o planeta na ordem. Na sua ordem.
Cultura - O jet-setista não lê, não vai ao teatro. A única coisa que ele lêsão os rótulos de uíque. A única música que escuta são umas "rapadas ehip-hopadas" que ele generosamente emite da aparelhagem do automóvel paratoda a cidade. Os tipos da cultura são, no entender do matreco nacional, unsdesgraçados que nunca ficarão ricos. O segredo é o seguinte: o jet-setistanem precisa de estudar. Nem de ter Curriculum Vitae. Para quê? Ele não vaiconcorrer, os concursos é que vão ter com ele. E para abrir portas basta-lheo nome. O nome da família, entenda-se.
Carros - O matreco nacional fica maluquinho com viaturas de luxo. É quaseuma tara sexual, uma espécie de droga legalmente autorizada. O carro não épara o nosso jet-setista um instrumento, um objecto. É uma divindade, ummeio de afirmação. Se pudesse o matreco levava o automóvel para a cama. E,de facto, o sonho mais erótico do nosso jet-setista não é com uma Mercedes.É, com um Mercedes.
Fatos - Têm de ser de Itália. Para não correr o risco do investimento ser emvão, aconselha-se a usar o casaco com os rótulos de fora, não vá a origem daroupa passar despercebida. Um lencinho pode espreitar do bolso, a sugerirque outras coisas podem de lá sair.
Simplicidade - A simplicidade é um pecado mortal para a nossa matrecagem.Sobretudo, se se é filho de gente grande. Nesse caso, deve-se gastar à largae mostrar que isso de país pobre é para os outros. Porque eles (os meninosde boas famílias) exibem mais ostentação que os filhos dos verdadeiros ricosdos países verdadeiramente ricos. Afinal, ficamos independentes para quê?
Óculos escuros - Essenciais, haja ou não haja claridade. O style - ou emportuguês, o estilo - assim o exige. Devem ser usados em casa, no cinema,enfim, em tudo o que não bate o sol directo. O matreco deve dar a entenderque há uma luz especial que lhe vem de dentro da cabeça. Essa a razão dochapéu, mesmo na maior obscuridade.
Telemóvel - Ui, ui, ui! O celular ou telemóvel já faz parte do braço domatreco, é a sua mais superior extremidade inferior. A marca, o modelo, asluzinhas que acendem, os brilhantes, tudo isso conta. Mas importa,sobretudo, que o toque do celular seja audível a mais de 200 metros. Quem disse que o jet-setista não tem relação com a música clássica? Volume nomáximo, pelo aparelho passam os mais cultos trechos: Fur Elise de Beethoven,a Rapsódia Húngara de Franz Liszt, o Danúbio Azul de Strauss. No entanto, amelodia mais adequada para as condições higiénicas de Maputo é o Voo do Moscardo. Última sugestão: nunca desligue o telemóvel!
O que em outro lugaré uma prova de boa educação pode, em Moçambique, ser interpretado como umsinal de fraqueza. Em Conselho de Ministros, na confissão da Igreja, nofuneral do avô: mostre que nada é mais importante que as suas inadiáveiscomunicações.
Você é que é o centro do universo
2 Comments:
oi sandro
aki é a carina...
bem na li o texto todo mas....gostei da tematica....
tas te sair um grande blogueiro....ehehheh
bjao..fica bem
Bonec@Diabolic@
Oi Sandro.. bem.. muito constructivo.. gostei do texto "lí-o dodinho".. bem é a realidade de MZ.. bem vi o adress do blog no teu flog e prometo passar mais vezes... continue com os teus pensamentos que concerteza.. dão um grande help.. e ajudam a reflectir melhor... podes tbm passar plo meu photoblog
www.photoblog.net/boneca_diabolica
Linda
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